ECOS DE CABO VERDE
Frei
Viegas André M’puhua em Missão
Ad Gentes
Frei Viegas missionário moçambicano em Cabo Verde desde 2015, relata-nos a sua experiência
a partir daquelas terras. Ele que se encontra trabalhando na Paróquia de São João Baptista na Diocese de Santiago de Cabo Verde, partilha a sua experiência
de missão.
Frei Viegas: Esta Paróquia, pertencente à
Diocese de Santiago, fica situada na
Ilha
do mesmo nome, não muito longe da cidade da Praia, que é a capital
do
Arquipélago de Cabo Verde.
Trata-se
de uma paróquia que esteve entregue aos cuidados pastorais do Padre Custódio
Ferreira de Campos, sacerdote espiritano, desde o já longínquo ano de 1946, até
quase aos nossos dias. Durante muito tempo, o Padre Custódio acumulou esta
Paróquia de S. João Baptista com a Paróquia do Santíssimo Nome de Jesus,
qualquer uma delas grandes em extensão rural, dispersas territorialmente, tendo
cerca de sete comunidades cada uma, com as populações distribuídas por pequenos
núcleos, em zonas de acessos bem difíceis.
A Ordem
dos Frades Menores tomou conta desta Paróquia de São João Baptista, no dia 8 de
Dezembro de 2010, através dos frades Frei António Andrade, inicialmente
coadjuvado pelo Frei Fernando Fonseca, depois veio Frei Artur Correia das Neves,
e pelos leigos, Senhor José Lino Furtado e Eutrópio Lima da Cruz. É desta
paróquia que vamos passar a falar.
Antes
de abordarmos a nossa actividade pastoral, é importante salientar o seguinte: a
Paróquia de São João Baptista ocupa um
território enorme em extensão, com baixíssima densidade populacional, dispersa
por núcleos habitados, em que a orografia e os acessos são difíceis. A população
possui uma qualificação académica bastante baixa, o que se reflecte na fraqueza
dos recursos humanos; acresce que a população destes lugares está habituada a
não participar activamente, mesmo quando se tenha decidido privilegiar os
grupos de crianças e de jovens.
Este
quadro, dificultando a acção pastoral, conduziu, por muito tempo, à rotina de uma
pastoral de manutenção, com inúmeras dificuldades para se dinamizarem novas iniciativas
e para exercer uma boa coordenação das diferentes actividades. Por outra parte,
querendo chegar a todo o lado, provocou alguma correria com dispersão e
desgaste, a que não parecem corresponder os resultados inicialmente esperados.
Um
outro constrangimento resulta do facto da Residência Paroquial de S. João
Baptista se situar na Cidade Velha, em virtude da não existência de condições dignas
na Residência de S. João/Chã de Igreja, em processo de construção;
evidentemente que esta circunstância acaba por se reflectir, de modo negativo,
na organização e no funcionamento da Paróquia.
Acresce
ainda que as colectas recolhidas entre os fiéis, são muito modestas e
inexpressivas, funcionando a Paróquia, na sua quase totalidade, à custa de
outros recursos financeiros, provenientes, designadamente, da Ordem dos Frades
Menores.
Entre
outras, mencionaram-se dificuldades na criação, por exemplo, de um Cartório
Paroquial, ou de um Secretariado Paroquial da Catequese, devido à baixa
participação nas iniciativas e nos empenhos por parte dos membros da
comunidade; obviamente que, apesar de todos os esforços, a actividade da
catequese, que deveria ser primordial, acaba por se ressentir da falta de
organização e de coordenação.
O
Pároco informou que o Bispo da Diocese prometeu financiar o recrutamento de
alguém para ficar à frente do Cartório Paroquial e do Secretariado Paroquial da
Catequese, ocupando-se ainda de outros afazeres a estes ligados; todavia, há
dificuldades nesse recrutamento, mesmo que seja para uma prestação a meio
tempo; não se consegue encontrar leigos com disponibilidade para essas tarefas.
Tem-se
procurado dinamizar a liturgia, sendo as celebrações eucarísticas dominicais a
actividade que mais vem aumentando com a participação dos fiéis, corporizando
elas o grosso de toda a acção pastoral paroquial, que praticamente se vê
reduzida a elas;
Desde
em 2015, ano da minha chegada, solicitei aos agentes pastorais a necessidade de
perseguir, permanentemente, os objectivos da renovação e da modernização da
Pastoral Paroquial, com a finalidade de ultrapassar as rotinas de uma pastoral
de manutenção, resumida quase que exclusivamente às celebrações eucarísticas e
às confissões. Tendo uma visão holística sobre a nossa paróquia, acreditei na
altura que a Paróquia de São João Baptista era uma comunidade constituída por
capelanias, realidade que não pode ser indiferente à organização e ao respectivo
funcionamento. Se não se pode etiquetar como desorganizada, a Paróquia de São João
Baptista de Santiago, também não se pode incluir no lote de paróquias organizadas.
Concordando
com estes enunciados de carácter geral, desde então, elencaram-se os assuntos a
serem tratados com seriedade e objectividade, como as prioridades da nossa vida
pastoral e fraterna, um assunto de cada vez, com o tempo e a profundidade
necessárias quanto possíveis, em ordem a saídas práticas e operacionais. O
elenco (necessariamente aberto à inclusão de novos temas que venham a surgir),
ficou assim constituído:
Catequese;
Administração
dos sacramentos;
Conselho
Paroquial;
Vida
litúrgica paroquial;
Vida
sacramental, em geral;
Relacionamento
com os paroquianos; pastoral de aproximação;
Lideranças
locais / comunitárias … Consequências pastorais;
Planificação
da vida / agenda pastoral;
Atendimento
paroquial;
Avaliação
/ medição permanente da pulsação das comunidades paroquiais / capelanias;
Partilha
e circulação de informações entre todos, principalmente entre membros da equipa
pastoral;
Pastoral
da Juventude;
Pastoral
da Família;
Serviços
sócio-caritativos;
Atenção
pastoral r às comunidades de Gouveia e Alto-Gouveia;
Propriedades
/ patrimónios paroquiais;
Outros
assuntos que venham a ser identificados.
Desde
os meados de 2016 até esta parte, tem-se procurado a alteração do estado das
coisas. Primeiramente, a abertura a celebrações baptismais, com preparações
prévias de pais e padrinhos, estabelecimento de critérios iguais a serem
aplicados a cada um e em todos os casos. De facto, os anos de 2016 e 2017
têm-se pautado por esta prática.
Uma
palavra especial merece o que se refere à Pastoral da Juventude. De meados de
2016 até agora, tem havido sucessivos trabalhos de sensibilização nas
comunidades locais, no sentido de os jovens se organizarem. As respostas têm
sido muito positivas. Os jovens das comunidades estruturaram-se. Caminhou-se
para o passo seguinte que consistiu na criação do Secretariado Paroquial da
Juventude, que por sua vez elegeu democrática e representativamente, os seus
órgãos, nomeadamente constituindo Presidente, Vice-Presidente, Secretário e
Tesoureiro. Nesta onda, uma verdadeira dinâmica nova, acaba-se de instalar o
Secretariado Paroquial da Juventude da Paróquia de São João Baptista de
Santiago, facto relevante acontecido a 26 de Março de 2017, no quadro de um
Encontro-Geral de Jovens, reunindo 234 jovens, no quadro de uma paróquia com
cerca de 4.000 habitantes.
As
dinâmicas estão lançadas quanto aos jovens. Tendo sido identificada a questão
do Sacramento da Confirmação, discutiu-se o assunto envolvendo os jovens: tudo
caminha para que, de Abril a Novembro se desenrolem 8 (oito) meses de
preparação, com 32 semanas de formação, abrangendo e cobrindo 32 temas, tirados
basicamente da Bíblia, do Catecismo da Igreja Católica, do YOUCAT e do Dia
Santificado. As dinâmicas para 2017 estão lançadas.
Verdade
seja dita, é notória a falta de catequistas qualificados. No entanto, os
catequistas encontrados para orientar esta formação, serão acompanhados e
receberão subsídios para um desempenho, o melhor que venha a ser possível nestas
circunstâncias. Quer-se atender à satisfação das exigências do direito das
pessoas no que concerne aos sacramentos, do mesmo modo que se procura a formação
prévia correspondente, de forma a conseguir um verdadeiro compromisso na vida cristã.
A
(re)organização da Catequese para a infância e adolescência, está também em
curso, tendo no dia 19 de Março último, acontecido um encontro paroquial de
todos os catequistas.
As
comunidades paroquiais estão a ser, permanentemente incentivadas a evoluírem das
rotinas para um compromisso verdadeiro na vida religiosas e comunitárias, de
preferência organizando-se e funcionando.
Em
resumo, trata-se de uma paróquia difícil, dadas as suas características. No
entanto, há sinais inequívocos de abertura por parte dos leigos, às diferentes
etapas do seu peregrinar. Os dados vão-se lançando e as vontades
reconfigurando-se. As dificuldades tornam essa nova largada, ainda mais aliciante,
como um autêntico desafio e, creio que se assim continuarmos, ela poderá crescer
cada vez mais.
Seja
tudo para glória de Deus e construção do seu Reino.
Frei
Viegas André M´puhua, OFM.
Cabo
Verde