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FRANCISCANOS OFM DE MOÇAMBIQUE

sexta-feira, 9 de junho de 2017

ECOS DE CABO VERDE

Frei Viegas André M’puhua em Missão Ad Gentes

Frei Viegas missionário moçambicano em Cabo Verde desde 2015, relata-nos a sua experiência
 a partir daquelas terras. Ele que se encontra trabalhando na Paróquia de São João Baptista na Diocese de Santiago de Cabo Verde, partilha a sua experiência
 de missão.

Frei Viegas: Esta Paróquia, pertencente à Diocese de Santiago, fica situada na
Ilha do mesmo nome, não muito longe da cidade da Praia, que é a capital
do Arquipélago de Cabo Verde.
Trata-se de uma paróquia que esteve entregue aos cuidados pastorais do Padre Custódio Ferreira de Campos, sacerdote espiritano, desde o já longínquo ano de 1946, até quase aos nossos dias. Durante muito tempo, o Padre Custódio acumulou esta Paróquia de S. João Baptista com a Paróquia do Santíssimo Nome de Jesus, qualquer uma delas grandes em extensão rural, dispersas territorialmente, tendo cerca de sete comunidades cada uma, com as populações distribuídas por pequenos núcleos, em zonas de acessos bem difíceis.
A Ordem dos Frades Menores tomou conta desta Paróquia de São João Baptista, no dia 8 de Dezembro de 2010, através dos frades Frei António Andrade, inicialmente coadjuvado pelo Frei Fernando Fonseca, depois veio Frei Artur Correia das Neves, e pelos leigos, Senhor José Lino Furtado e Eutrópio Lima da Cruz. É desta paróquia que vamos passar a falar.
Antes de abordarmos a nossa actividade pastoral, é importante salientar o seguinte: a Paróquia de São João Baptista  ocupa um território enorme em extensão, com baixíssima densidade populacional, dispersa por núcleos habitados, em que a orografia e os acessos são difíceis. A população possui uma qualificação académica bastante baixa, o que se reflecte na fraqueza dos recursos humanos; acresce que a população destes lugares está habituada a não participar activamente, mesmo quando se tenha decidido privilegiar os grupos de crianças e de jovens.

Este quadro, dificultando a acção pastoral, conduziu, por muito tempo, à rotina de uma pastoral de manutenção, com inúmeras dificuldades para se dinamizarem novas iniciativas e para exercer uma boa coordenação das diferentes actividades. Por outra parte, querendo chegar a todo o lado, provocou alguma correria com dispersão e desgaste, a que não parecem corresponder os resultados inicialmente esperados.

Um outro constrangimento resulta do facto da Residência Paroquial de S. João Baptista se situar na Cidade Velha, em virtude da não existência de condições dignas na Residência de S. João/Chã de Igreja, em processo de construção; evidentemente que esta circunstância acaba por se reflectir, de modo negativo, na organização e no funcionamento da Paróquia.
Acresce ainda que as colectas recolhidas entre os fiéis, são muito modestas e inexpressivas, funcionando a Paróquia, na sua quase totalidade, à custa de outros recursos financeiros, provenientes, designadamente, da Ordem dos Frades Menores.
Entre outras, mencionaram-se dificuldades na criação, por exemplo, de um Cartório Paroquial, ou de um Secretariado Paroquial da Catequese, devido à baixa participação nas iniciativas e nos empenhos por parte dos membros da comunidade; obviamente que, apesar de todos os esforços, a actividade da catequese, que deveria ser primordial, acaba por se ressentir da falta de organização e de coordenação.
O Pároco informou que o Bispo da Diocese prometeu financiar o recrutamento de alguém para ficar à frente do Cartório Paroquial e do Secretariado Paroquial da Catequese, ocupando-se ainda de outros afazeres a estes ligados; todavia, há dificuldades nesse recrutamento, mesmo que seja para uma prestação a meio tempo; não se consegue encontrar leigos com disponibilidade para essas tarefas.
Tem-se procurado dinamizar a liturgia, sendo as celebrações eucarísticas dominicais a actividade que mais vem aumentando com a participação dos fiéis, corporizando elas o grosso de toda a acção pastoral paroquial, que praticamente se vê reduzida a elas;

Desde em 2015, ano da minha chegada, solicitei aos agentes pastorais a necessidade de perseguir, permanentemente, os objectivos da renovação e da modernização da Pastoral Paroquial, com a finalidade de ultrapassar as rotinas de uma pastoral de manutenção, resumida quase que exclusivamente às celebrações eucarísticas e às confissões. Tendo uma visão holística sobre a nossa paróquia, acreditei na altura que a Paróquia de São João Baptista era uma comunidade constituída por capelanias, realidade que não pode ser indiferente à organização e ao respectivo funcionamento. Se não se pode etiquetar como desorganizada, a Paróquia de São João Baptista de Santiago, também não se pode incluir no lote de paróquias organizadas.

Concordando com estes enunciados de carácter geral, desde então, elencaram-se os assuntos a serem tratados com seriedade e objectividade, como as prioridades da nossa vida pastoral e fraterna, um assunto de cada vez, com o tempo e a profundidade necessárias quanto possíveis, em ordem a saídas práticas e operacionais. O elenco (necessariamente aberto à inclusão de novos temas que venham a surgir), ficou assim constituído:
Catequese;
Administração dos sacramentos;
Conselho Paroquial;
Vida litúrgica paroquial;
Vida sacramental, em geral;
Relacionamento com os paroquianos; pastoral de aproximação;
Lideranças locais / comunitárias … Consequências pastorais;
Planificação da vida / agenda pastoral;
Atendimento paroquial;
Avaliação / medição permanente da pulsação das comunidades paroquiais / capelanias;
Partilha e circulação de informações entre todos, principalmente entre membros da equipa pastoral;
Pastoral da Juventude;
Pastoral da Família;
Serviços sócio-caritativos;
Atenção pastoral r às comunidades de Gouveia e Alto-Gouveia;
Propriedades / patrimónios paroquiais;
Outros assuntos que venham a ser identificados.

Desde os meados de 2016 até esta parte, tem-se procurado a alteração do estado das coisas. Primeiramente, a abertura a celebrações baptismais, com preparações prévias de pais e padrinhos, estabelecimento de critérios iguais a serem aplicados a cada um e em todos os casos. De facto, os anos de 2016 e 2017 têm-se pautado por esta prática.
Uma palavra especial merece o que se refere à Pastoral da Juventude. De meados de 2016 até agora, tem havido sucessivos trabalhos de sensibilização nas comunidades locais, no sentido de os jovens se organizarem. As respostas têm sido muito positivas. Os jovens das comunidades estruturaram-se. Caminhou-se para o passo seguinte que consistiu na criação do Secretariado Paroquial da Juventude, que por sua vez elegeu democrática e representativamente, os seus órgãos, nomeadamente constituindo Presidente, Vice-Presidente, Secretário e Tesoureiro. Nesta onda, uma verdadeira dinâmica nova, acaba-se de instalar o Secretariado Paroquial da Juventude da Paróquia de São João Baptista de Santiago, facto relevante acontecido a 26 de Março de 2017, no quadro de um Encontro-Geral de Jovens, reunindo 234 jovens, no quadro de uma paróquia com cerca de 4.000 habitantes.
As dinâmicas estão lançadas quanto aos jovens. Tendo sido identificada a questão do Sacramento da Confirmação, discutiu-se o assunto envolvendo os jovens: tudo caminha para que, de Abril a Novembro se desenrolem 8 (oito) meses de preparação, com 32 semanas de formação, abrangendo e cobrindo 32 temas, tirados basicamente da Bíblia, do Catecismo da Igreja Católica, do YOUCAT e do Dia Santificado. As dinâmicas para 2017 estão lançadas.
Verdade seja dita, é notória a falta de catequistas qualificados. No entanto, os catequistas encontrados para orientar esta formação, serão acompanhados e receberão subsídios para um desempenho, o melhor que venha a ser possível nestas circunstâncias. Quer-se atender à satisfação das exigências do direito das pessoas no que concerne aos sacramentos, do mesmo modo que se procura a formação prévia correspondente, de forma a conseguir um verdadeiro compromisso na vida cristã.
A (re)organização da Catequese para a infância e adolescência, está também em curso, tendo no dia 19 de Março último, acontecido um encontro paroquial de todos os catequistas.
As comunidades paroquiais estão a ser, permanentemente incentivadas a evoluírem das rotinas para um compromisso verdadeiro na vida religiosas e comunitárias, de preferência organizando-se e funcionando.
Em resumo, trata-se de uma paróquia difícil, dadas as suas características. No entanto, há sinais inequívocos de abertura por parte dos leigos, às diferentes etapas do seu peregrinar. Os dados vão-se lançando e as vontades reconfigurando-se. As dificuldades tornam essa nova largada, ainda mais aliciante, como um autêntico desafio e, creio que se assim continuarmos, ela poderá crescer cada vez mais.
Seja tudo para glória de Deus e construção do seu Reino.


Frei Viegas André M´puhua, OFM.

Cabo Verde




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