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FRANCISCANOS OFM DE MOÇAMBIQUE

terça-feira, 12 de maio de 2015



DISCURSO DO PAPA FRANCISCO
AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DE MOÇAMBIQUE
EM VISITA "AD LIMINA APOSTOLORUM"

Sábado, 9 de Maio de 2015

Amados Irmãos no episcopado!

Sede bem-vindos ad limina Apostolorum, meta da visita por vós empreendida nestes dias para, com as vossas dioceses no coração, celebrardes e estreitardes ainda mais os vínculos entre vós e com a Igreja de Roma que preside à caridade. Somos um único povo, com uma só alma, convocados pelo Senhor que nos ama e sustenta. Com fraterna alegria, vos acolho e saúdo, estendendo esta minha saudação aos cardeais Alexandre e Júlio, aos bispos eméritos, ao clero diocesano e missionário, aos consagrados e consagradas e a todos os fiéis leigos de Moçambique nomeadamente aos catequistas e animadores das pequenas comunidades cristãs. Agradeço a D. Lúcio Muandula as palavras que me dirigiu em nome de toda a Conferência Episcopal, compartilhando as alegrias e esperanças, as dificuldade e inquietações do vosso povo. Exprimo-vos a minha gratidão pelo generoso trabalho pastoral que levais a cabo nas vossas comunidades diocesanas e asseguro-vos a minha constante união e solidariedade espiritual. Por minha vez, peço que não vos esqueçais de rezar por mim, a fim de que eu possa ajudar a Igreja naquilo que o Senhor deseja que a ajude.

«Tu amas-me?» – perguntara Ele a Pedro, continuando a pergunta a ressoar no coração dos seus sucessores. E, à minha resposta afirmativa, pediu-me: «Apascenta as minhas ovelhas» (cf. Jo 21, 15-17). E o mesmo – estou certo! – aconteceu convosco. O Senhor faz-Se mendigo de amor e interroga-nos sobre a única questão verdadeiramente essencial para apascentar as suas ovelhas, a sua Igreja. Jesus é o Pastor supremo da Igreja e é em seu nome e por seu mandato que nós temos o cuidado de guardar o seu rebanho com plena disponibilidade até ao dom total da nossa vida. Ponhamos de parte todas as possíveis importâncias e falsas presunções, para nos inclinarmos a «lavar os pés» de quantos o Senhor nos confiou.

Na vossa solicitude pastoral, reservai um lugar particular, muito particular, para os vossos sacerdotes. Deus manda-nos amar o próximo, e o primeiro próximo do bispo são os seus sacerdotes, indispensáveis colaboradores, cujo conselho e ajuda buscais, de quem cuidais como pais, irmãos e amigos. Para eles, permaneça sempre aberto o vosso coração, a vossa mão e a vossa porta. O tempo gasto com eles nunca é tempo perdido. Entre os vossos primeiros deveres, conta-se o cuidado espiritual do presbitério, mas não esqueçais as necessidades humanas de cada sacerdote, sobretudo nos momentos mais delicados e importantes do seu ministério e da sua vida.

A fecundidade da nossa missão, amados Irmãos no sacerdócio, não é assegurada pelo número de colaboradores, nem pelo prestígio da instituição, nem ainda pela quantidade de recursos disponíveis. O que conta é estar permeado pelo amor de Cristo, deixar-se conduzir pelo Espírito Santo e enxertar a própria existência na árvore da vida, que é a Cruz do Senhor. E é da Cruz, supremo acto de misericórdia e amor, que se renasce como «nova criação» (Gl 6, 15). Querido sacerdote, és alter Christus! De São Paulo, insuperável modelo de missionário cristão, sabemos que procurou conformar-se com Jesus na sua morte para participar na sua ressurreição (cf. Flp 3, 10-11). No seu ministério, experimentou o sofrimento, a fraqueza e a derrota, mas também a alegria e a consolação. Isto é o mistério pascal de Jesus: mistério de morte e ressurreição. O mistério pascal é o coração palpitante da missão da Igreja. Se permanecerdes dentro deste mistério, estareis ao abrigo tanto duma visão mundana e triunfalista da missão, como do desânimo que pode surgir à vista das provas e insucessos.

Mas, hoje, existirão ainda estes missionários com a estofa de Paulo, homens e mulheres agarrados à Cruz de Cristo, desposados com Cristo, despojados de tudo para abraçarem o Tudo? Sim, e rejubilamos com tais homens e mulheres consagrados totalmente a Cristo, imolados e identificados com Cristo podendo afirmar: «Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (Gl 2, 20). Neste Ano da Vida Consagrada, elevem-se a Deus, das vossas comunidades cristãs, acções de graças e louvores pelo testemunho de fé e serviço que os religiosos e as religiosas oferecem nos diversos sectores da vida eclesial e social, nomeadamente na atenção e solicitude pelos pobres e todas as misérias humanas, materiais, morais e espirituais. Penso na grande quantidade de escolas comunitárias, geridas pelas diversas Famílias religiosas, bem como nos variados centros de acolhimento, orfanatos, casas-família onde vivem e crescem tantas crianças e jovens abandonados; desejo assinalar ainda a heróica dedicação de tantos enfermeiros e médicos, freiras e sacerdotes. Amados Irmãos bispos, mostrai-vos agradecidos pela presença e serviço que as consagradas e os consagrados desempenham em Moçambique; é importante a justa inserção diocesana das comunidades religiosas: não são mero material de reserva para as dioceses, mas carismas que as enriquecem. Entretanto isto não pode ser deixado ao acaso, à improvisação; exige o compromisso das diversas forças e vivências num projecto comum, para que não se dispersem em muitas coisas secundárias ou supérfluas, mas se concentrem na realidade fundamental que é o encontro com Cristo, com a sua misericórdia, com o seu amor, e amar os irmãos como Ele nos amou.

O vosso pastoreio impõe-vos a obrigação de unir, harmonizar e racionalizar as forças eclesiais da diocese. Sei que já o estais fazendo, mas não seja para cada um se fechar no próprio redil ou lamentar-se do que não tem; fazei-o para imprimir um renovado impulso apostólico às comunidades cristãs, imprimir-lhes a dinâmica missionária da saída para acompanhar as pessoas – como fez Jesus com os discípulos de Emaús –, acordando nelas a esperança, abrasando-lhes o coração e suscitando o desejo de regressar a casa, ao seio da família, à Igreja onde habitam as nossas fontes: a Sagrada Escritura, a catequese, os sacramentos, a comunidade, a amizade do Senhor, Maria e os Apóstolos. Possa este clima de «família», o ambiente sereno e cordial entre todos, favorecer o bom entendimento e a colaboração responsável no seio da Igreja que peregrina em Moçambique, convidando os bispos à comunhão entre si e à solicitude pela Igreja universal. Esta solicitude e comunhão vêem-se no real e fecundo funcionamento da Conferência Episcopal, na generosa colaboração entre dioceses vizinhas ou da mesma província eclesiástica que se põem de acordo para oferecer serviços e soluções de interesse comum.

Amados Irmãos no episcopado, descei para o meio dos vossos fiéis, mesmo nas periferias das vossas dioceses e em todas as «periferias existenciais» onde há sofrimento, solidão, degrado humano. Um bispo que vive no meio dos seus fiéis tem os ouvidos abertos para escutar «aquilo que o Espírito diz às Igrejas» (Ap 2, 7) e a «voz das ovelhas», inclusive através daqueles organismos diocesanos que têm a tarefa de vos aconselhar e ajudar, promovendo um diálogo leal e construtivo: conselho presbiteral, conselho pastoral, conselho dos assuntos económicos. Não se pode pensar num bispo que não tenha estes organismos diocesanos. Também isto significa estar com o povo. Penso aqui no vosso dever de residência na diocese; solicita-a o próprio povo, que quer ver o seu bispo, caminhar com ele, estar perto dele; precisa desta presença para viver e, de certo modo, para respirar. Sois esposos da vossa comunidade diocesana, ligados profundamente a ela.

Todos recebemos a água do Baptismo, partilhamos a mesma Eucaristia, possuímos o mesmo e único Espírito Santo, que nos recorda o que Jesus nos ensinou. Pois bem! A primeira coisa que Jesus nos ensina é esta: encontrar-se e, encontrando, ajudar. O encontro com o outro alarga o coração, multiplica a capacidade de amar. Os Pastores e os fiéis de Moçambique precisam de desenvolver mais a cultura do encontro. Jesus pede-vos apenas uma coisa: que vades, procureis e encontreis os mais necessitados. Como não pensar aqui nas vítimas das calamidades naturais? Estas não cessam de semear destruição, sofrimento e morte – como ainda há pouco, infelizmente, fomos testemunhas –, aumentando o número de deslocados e refugiados. Estas pessoas precisam que partilhemos a sua dor, as suas ânsias, os seus problemas. Precisam que as olhemos com amor; é preciso ir ao encontro delas, como fazia Jesus.

Por fim, alargando o olhar ao país inteiro, vemos que os desafios actuais de Moçambique requerem que se promova em medida maior a cultura do encontro. As tensões e os conflitos minaram o tecido social, destruíram famílias e sobretudo o futuro de milhares de jovens. O caminho mais eficaz para contrastar a mentalidade de prepotência e as desigualdades, bem como as divisões sociais, é investir no campo de «uma educação que ensine os jovens a pensar criticamente e ofereça um caminho de amadurecimento nos valores» (Evangelii gaudium, 64). Queridos bispos, continuai a apoiar a vossa juventude, sobretudo através da criação de espaços de formação humana e profissional. Neste sentido, é oportuno sensibilizar o mundo dos responsáveis da sociedade e reavivar a pastoral nas Universidades e nas escolas, conjugando a tarefa educativa com o anúncio do Evangelho (cf. Evangelii gaudium, 132-134). As exigências são tão grandes, que não há maneira de as satisfazer com as meras possibilidades da iniciativa individual e da união de particulares formados no individualismo. Aos problemas sociais responde-se com redes comunitárias. É necessária uma junção de forças e uma unidade de rumo: a isso ajuda a Conferência Episcopal. Entre as suas funções, menciona-se «o diálogo unitário com a autoridade política comum a todo o território» (Directório para o Ministério Pastoral dos Bispos, n. 28). Neste sentido, encorajo uma decidida implementação de boas relações com o Governo, não de dependência, mas de sã colaboração – nos termos do Acordo celebrado em 7 de Dezembro de 2011 entre a Santa Sé e a República de Moçambique –, interessando-se nomeadamente pelas leis que são aprovadas no Parlamento. Amados Bispos, não poupeis esforços no apoio à família e na defesa da vida desde a sua concepção até à morte natural. A este respeito, recordai as opções próprias dum discípulo de Cristo e a beleza de ser mãe acompanhada pelo apoio da família e da comunidade local. A família seja sempre defendida como fonte privilegiada de fraternidade, respeito pelos outros e caminho primário da paz.

Querida Igreja de Deus que peregrinas em terras de Moçambique, amados Irmãos no episcopado, Jesus não vos diz: «Ide! Arranjai-vos!» Mas sim: «Ide, (…) Eu estarei convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28, 19.20). Está aqui a nossa força e consolação: quando saímos para levar o Evangelho com verdadeiro espírito apostólico, Ele caminha connosco, precede-nos. Para nós, isto é fundamental: Deus sempre nos precede. Quando tivermos de partir para uma periferia extrema, talvez nos assalte o medo; mas não há motivo! Na realidade, Jesus já está lá; Ele espera-nos no coração daquele irmão, na sua carne ferida, na sua vida oprimida, na sua alma sem fé. Jesus está lá naquele irmão. Ele sempre nos precede; sigamo-Lo! Tenhamos a audácia de abrir estradas novas para o anúncio do Evangelho. Confio à Santíssima Virgem Maria, Mãe da Igreja, as vossas esperanças e as vossas solicitudes, o caminho das vossas dioceses e o progresso da vossa Pátria, enquanto invoco a Bênção do Senhor sobre todo o povo de Deus que peregrina com os seus pastores na dilecta Nação Moçambicana.

 

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